Tuesday, January 31, 2012

O Milho e sua Origem


Talvez com o milho possamos traçar um paralelo entre os primeiros filhos das Américas. Cultivado de Norte a Sul pelos ameríndios, em diversas crenças simboliza a fertilidade, para os astecas a Deusa dos Cereais, Centeotl é representada pelo milho, assim como o Deus Tlaloc das chuvas, da fertilidade e da água carregava uma haste das plantas nas mãos. O grão era de enorme importância para as sociedades pré-colombianas, além ser um dos principais itens na alimentação era muito usado em ritos religiosos, principalmente em forma de bebidas fermentadas como a chicha pelos Incas, o tejuino pelos Apaches e o cayum pelas diversas etnias Tupis.
Entre imperadores Incas, Maias e Astecas estoques de seus grãos demonstrava poder, autonomia para épocas do ano menos produtivas, o baixo índice de água em sua composição facilitava em sua conservação quer fosse seco ou pilado em forma de farinhas, como habitual para os índios brasileiros.
Embora acredite que sua manipulação seja mais antiga, achados arqueológicos apontam que era cultivado há 7.300 anos por civilizações mexicanas. Sua exata origem ainda é um pouco controversa, alguns pesquisadores defendem que seu ancestral selvagem tenha vindo da bacia do Paraná-Paraguai, planta conhecida como tunicata. Desta ou de outra parte das Américas a espécie foi domesticada adaptada ao plantio por cruzamentos, processo chamado de Seleção Massal, onde as melhores plantas nascidas são escolhidas de acordo com a região, clima, solo e uso planejado. Por esse processo os Incas conseguiram mais de 700 espécies de choclos cultiváveis, como o chamam.
De acordo com lenda Guarani, em um tempo em que os povos viviam distantes, sem compartir, dois amigos caçadores lamentavam a escassez de comida e a dificuldade para caçar e pescar naquela época do ano, pediram então para que Nhandeyara, o Grande Espírito, lhe enviassem outra forma de alimento que lhe fornecessem sustento para todas as estações. Em uma noite, sentados a cerca da tribo surge da escuridão envolto a raios de luz um guerreiro enviado por Nhandeyara, diz que deve lutar com os dois e o mais fraco será sacrificado e assim é feito, o corpo é enterrado perto da tribo, como orientado pelo guerreiro que diz que dele nascerá a planta que alimentará os povos. Um tempo depois o povo Guarani vê a promessa do guerreiro se comprir e crescer uma planta com folhas verdes e espigas douradas, em homenagem ao caçador morto dão ao alimento o seu nome, Avaty. Compreendem a sabedoria do Grande Espírito, que pode tirar a vida de um homem de bem para o bem de todas as outras criaturas. Os grãos passados de mãos em mãos para outras tribos simbolizava a união e afetuosa amizade.
Já de acordo com a Mitologia Asteca, após um grande dilúvio a divindade Quetzalcóatl marcha sobre a Terra à procura de um alimento que garantisse a subsistência do homem, encontra então perto da Montanha Paxil, nos limites da Guatemala, trabalhadores, que de acordo com interpretações seriam formigas, carregando feixes de milho, desde então os Olmecas o cultivaram, passando seus conhecimentos agrícolas entre as gerações. Para os nativos norte-americanos Iroqueses os espíritos do milho, das vagens e das abóboras representam a trindade conhecida como De-o-ha’-ko, palavra que faz referência a Nossa Vida.

O Milho hoje para o Brasileiro


Das “Novas Terras” para o mundo, hoje o Zea Mays, como é conhecido para os cientistas ocidentais, é o terceiro cereal mais produzido, depois do trigo e do arroz. No Brasil o Estado do Paraná gera 27% da safra nacional, segundo a EMBRAPA, espantosamente apenas 5% é destinada ao consumo humano, devido sua alta produtividade a maior parte é usada para ração animal. No ano de 1950 o plantio de milho no país caiu drasticamente, devido a um plano de Getúlio Vargas para incentivo à produção de trigo. Infelizmente até hoje, como bem sabem meus amigos boulangers, não conseguidos um trigo de excelente qualidade, inclusive importamos dos vizinhos argentinos por essa questão. Que tal investirmos em pão de milho?
Outro produto que disputou produção porém hoje virou parceiro do milho é a soja, essa causou muito mais problemas para os Índios, devido ao número territórios desapropriados aparentemente pelo próprio governo para o cultivo do grão.
É incontestável com todo o legado indígena como o milho faz parte importante de nossa alimentação, principalmente nas regiões rurais do sudeste onde o consumo é de 31 kg/habitante ao ano, muito superior ao resto do país que consome apenas 7,7 kg/habitante segundo dados no IBGE.
Hoje lendo um livro de Berta G. Ribeiro, O Índio na Cultura Brasileira, fiquei feliz em chegar ao capítulo sobre o Caipira, cultura de um povo que procuro me inspirar já há um tempo. No texto descobri o significado da palavra, de raiz tupi, Caí-pyra se refere ao envergonhado, ao tímido, mas esse não foi o motivo da minha alegria e sim em ler quantos itens o autor destaca para mostrar como simples hábitos indígenas foram aderidos à cultura e ao modo de ser do Caipira, desde o falar geral, o andar a pé descalço, o tomar banho todo dia, o embalar-se na rede até costumes e bases na alimentação, como o uso do milho.
Muitos, principalmente nas zonas urbanas se lembram de pratos com milho apenas quando se referem a festas juninas, mas estão presentes no cotidiano de moradores das zonas rurais, em quireras, angus (depois chamados de polenta quando chegou à Itália), bambás, virados, tutus, pipocas, pamonhas, curais, canjicas (que originalmente era uma pasta pura de milho), bolos e outros tantos, como até mesmo o cigarrinho de palha com o também original indígena tabaco.

Monday, January 23, 2012

As Bases da Alimentação Indígena



Sendo um cozinheiro não poderia começar minha pesquisa por outro lugar senão pela Culinária. Quando pensamos na Alimentação Indígena Brasileira acho que o primeiro item que nos vêm à mente é a Mandioca, e não é à toa, pois de forma geral, nessa maior parte do território sul americano que ainda não era dividido nos países que hoje conhecemos, constituía a base da alimentação da população de distintas etnias que aqui viviam.
A origem desta raiz robusta possui diferentes versões dentro da Mitologia Indígena de acordo com a tribo, porém todas se referem à história de uma criança que foi enterrada e no lugar nasceu um grande arbusto, a Mandioca. Alguns pesquisadores acreditam que sua origem e domesticação tenham ocorrido a mais de 8 mil anos, acerca da região que se conhece por Acre e Amazônia.
O plantio de subsistência da Mandioca, já muito antes da chegada dos portugueses aqui, gerava produtos como o tucupi, tacacá, beiju, tapioca (tipi’óka em tupi), farinha que fazia parte de receitas de pirões e paçocas de peixes e carnes, e bebidas como o tepiokuy, pajuaru, tarubá, cauim e tikira.
Em breve pretendo aprofundar mais minha pesquisa sobre a presença e a importância da Mandioca, que se estende até hoje dentro das Comunidades Brasileiras.
Ampliando a visão para outras grandes civilizações que deixaram suas fortes influências na América, me refiro a Incas, Maias e Astecas, as bases de suas variadas alimentações se apoiavam na Batata e no Grandioso Milho, cultivado e conhecido pelos Índios Guarani como Avaty, homenagem ao Guerreiro Caçador que deu origem ao cereal, de acordo com a lenda de seu povo.
Devido ao fato de estar neste instante no Estado de Minas Gerais e percebê-lo diversas vezes em receitas regionais de suma importância, é no Milho que inicio a minha busca pelas Raízes Culturais Indígenas.

Friday, January 13, 2012

Equilíbrio

Hoje mais do que nunca, o que mais se fala pelo mundo é na responsabilidade ambiental de cada um. Pode ser que estejamos mesmo à beira de grandes cataclismos devastadores, mas prefiro acreditar que a consciência da humanidade, incluindo a minha, está mudando.
Talvez se ao invés de aniquilar o Povo Indígena, os primeiros europeus que aqui aportaram tivessem aprendido com sua Cultura e Crença, a civilização terrestre já estaria em um novo estágio de evolução. Não quero ficar me lamentando por isso, nem ficar procurando culpados que já morreram e acredito que de alguma forma sofreram ou estão sofrendo as conseqüências de seus atos.
Prefiro acreditar que nunca é tarde para mudar e repensar sobre nossas atitudes, prefiro acreditar que não é tarde para respeitar, conhecer, admirar e aprender com a nossa até então sufocada Cultura Indígena, que sempre viveu em pleno equilíbrio ambiental que hoje nós ocidentais tanto buscamos.

Thursday, January 12, 2012

Apresentação

Não sei se não se faz necessário ou se realmente não sei quais são os objetivos práticos deste blog, a idéia real é trazer descobertas e pensamentos pessoais sobre a Cultura Brasileira. Acredito que como muitos brasileiros, não sou um profundo conhecedor da Cultura Indígena, sempre senti uma certa afinidade, quer seja pela sonoridade de palavras dos mais distintos dialetos ou por seus ritos, sempre mal interpretados pela nossa visão ocidental, porém sem maior aprofundamento.
Essa afinidade e intimidade se elevou a uma potencia desconhecida para mim quando estive na capital Inca de Cuzco. Ao mesmo tempo percebi como não conhecia nada da real essência do Brasil! Imediatamente essa enorme vontade em pesquisar tomou conta de mim!
O intuito da Conexão Tupi é esse, registrar e compartilhar minhas singelas descobertas sobre a Vida Indígena. Meu objetivo é conseguir contagiar outras pessoas com essa sede em beber do Grande Rio.

Tuesday, January 10, 2012

O Despertar

O despertar da já latente vontade em pesquisar hábitos e costumes indígenas, sobreviventes e camuflados em nossa altamente miscigenada cultura brasileira, ocorreu na minha primeira (e por enquanto única) visita as Terras Incas no Peru.
Admirado e impressionado é pouco para descrever a minha alegria ao simplesmente andar pelas ruas do país e sentir como a Cultura Inca estava presente, forte e pulsante.
Ao chegar em Cuzco, a Capital do Império Inca, tive que controlar a indignação e a raiva que se manifestaram dentro de mim pelo fato dos europeus terem dizimado, em prol da palavra do seu Senhor (“o Salvador”), a civilização indígena, que vivia em suas terras em plena harmonia ambiental e espiritual. Nesse momento eu me perguntava: Quem era o bárbaro? A resposta me vinha automaticamente.
Essa raiva durou apenas um dia, pois rapidamente voltei a reparar como a Cultura Inca estava ali com toda sua energia. O fato dos espanhóis terem construído sua cidade colonial, literalmente, sobre a capital do Imperador Pachacutec não foi o suficiente para assassinar seus hábitos, crenças e valores. A Cultura Quéchua respira com força em Cuzco!
Nos demais dias da viagem, ao cruzar com europeus visitando os monumentos milenares Incas, senti uma boa sensação: Que bom que estão aqui para admirar e sentir a força da Energia Indígena, sejam bem vindos à América!
Hoje sei que essa viagem ao Peru foi só o despertar, só o primeiro gole altamente revigorante desse rio. Por enquanto o Gigante Tupi apenas abriu os olhos.